O preço da pressa: a contemplação como ato de resistência

A sociedade do desempenho está cansada, afirma Byung-Chul Han, ao descrever o ritmo frenético que rege o tecido social contemporâneo. Em análise, a sociedade atual vivencia o apogeu da tecnologia e avanços científicos, ao mesmo tempo que adoece devido ao seu diferencial. Nesse cenário, o indivíduo moderno vê-se mergulhado em um ciclo contínuo e monótono de tarefas e cobranças e o tempo perde sua espessura contemplativa e admite a aceleração como o mal do século. Então, repercute a discussão que foge da temporaneidade: o limiar entre a produção acelerada e a contemplação se tornou tênue e agora não sabemos mais qual devemos valorizar -- e como poderíamos fazer isso.

Com a ascensão do neoliberalismo e a globalização, discursos que visam a produtividade e o pragmatismo tornaram-se cotidianos, cada vez minando mais a sensação de liberdade e transformando o tempo em matéria de cálculo. Nessa ótica, argumentos que afirmam a constante mudança da sociedade humana tornam-se ambíguos uma vez que nos anos 60, período que experiencia a implementação de diversas medidas as quais foram conhecidas como Estado de Bem-estar Social, uma família poderia contemplar uma vida confortável com salários muito menores do que os de hoje e, por conseguinte, existir diante do ócio. Entretanto, ambíguo é tal discurso pois muito se dirá a respeito do senso de dever dessa geração em relação ao trabalho, o que apaziguou muitas vezes esse sentimento de dedicar horas de sua vida – que poderiam ser passadas com a família, em vez do chefe – em troca de um salário incoerente com o esforço.

Ao passo que o tempo fluiu, valores se alteraram, como se observa entre gerações mais recentes. Diferentemente daqueles que vivenciaram os anos de ouro na Europa e Estados Unidos – ou Anos de Chumbo, aqui, em terras brasileiras – gerações mais novas tendem a abordar tal discussão com profundidade. Diante das circunstâncias as quais estamos inseridos, tempo de vida tornou-se mercadoria e o de contemplar tudo o que conquistamos viraram horas perdidas somente por não produzirem matéria de função imediata e aparente. Analisando a vida como produto, faz-se evidente o motivo pelo qual adultos deixam de desenhar; não por não almejarem, mas devido à aceleração doentia que consome a existência em períodos tão pragmáticos e imediatistas como o nosso. 

Retomando o teórico supracitado, torna-se cada dia mais evidente que a sociedade da produtivida-de e da moeda é a sociedade da exaustão e do adoecimento. Diante do discutido, é indubitável que o tempo de contemplar está cada vez mais raro, sendo fulcral que a comunidade humana encare sua própria necessidade de exercer a subjetividade do ser e que os momentos de se contemplar se sobressaiam aos de produzir, porque, entre o fazer e o ser, ainda é o ser que define o que realmente importa.

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