Cento e Vinte Passos na Penumbra - Capítulo 2
A janela estava fechada, porém os ventos fortes batiam a todo momento em seu vidro e faziam sons irritantes da superfície vitral contra as grades de ferro.
Willian puxou as cobertas até o queixo, mesmo que não sentisse frio. Não conseguia dormir mesmo que ainda estivesse cansado. Ele havia dormido por tempo demais quando chegou ao templo, era natural que agora precisasse se cansar um pouco mais para que o cansaço evidente surtisse efeito. Virou de um lado para o outro tentando encontrar uma posição que o acalmasse, porém os movimentos doíam e só o recordavam da praga que carregava na pele.
Atentou os ouvidos. Havia um som melodioso no fundo, uma música. Ele pôde ouvir o som dos tambores somente, mas eram sons coordenados, evidenciavam um ritmo. Willian decidiu se levantar, empurrando as cobertas para longe e erguendo com um pouco de dificuldade. Ele se sentou à beira da cama por alguns segundos, respirando fundo até que a dor na pele e músculos aliviasse. Agora acordado, o som dos tambores parecia mais claro, não como um toque fúnebre como o da reza que testemunhou mais cedo, era uma batidda alegre e quente, parecia trazer a vida que o templo de dia queria apagar para por somente a disciplina.
Com esforço, Willian se colocou de pé. A praga parecia puxar sua pele, ardente a cada movimento, então ele apertou os olhos, cerrou os dentes por alguns segundos e aguardou a ardência aliviar. Andou então até o espelho que ficava ao lado da cama e puxou as vestes pesadas, assegurando pelo seu reflexo que os vermes estavam escondidos abaixo dos tecidos grossos. Ele então caminhou até a porta do quarto e avistou o corredor, vazio, como se espera em uma madrugada, embora ao abrir a porta, o som das músicas e cantorias tenha preenchido seus ouvidos, ainda ecoantes ao mesmo tempo que o ar gélido tomou conta de seu corpo.
Andando pelo corredor, Willian pôde distinguir os sons a cada passo que dava em sua direção, ouvindo a música também performada por instrumentos de corda, liras, harpas e talvez algum outro o qual ele não reconhecia. Guiando-se pelo som, Willian descia as escadas e percorria corredores, deslizando a mão esquerda nos tijolos, hábito que adquiriu quando percebeu que as crises podiam vir a qualquer momento e que se elas viessem de abrupto em uma escada, ele teria uma queda grave. Ele admirava a luz tênue dos braseiros dispostos em nichos ao longo do caminho, distorcendo o formato de sua sombra.
Dobrou uma esquina, o som ficando cada vez mais intenso e vivo a cada passo. Então viu um enorme portão aberto que dava vista a um salão amplo, diferente do octogonal da reza, seu teto era mais baixo e não era abobadado, tinha enormes caibros percorrendo a sala, diversos braseiros espalhados de forma calculada e uma lareira de frente para os portões. Jaziam também poltronas, sofás, tapeçarias e adegas que retinham por completo o tom tétrico e azul monocromático do templo e o substituiam-no por uma tonalidade quente e viva. Os sacerdotes estavam reunidos, alguns sem os capuzes, outro com as túnicas parcialmente afrouxadas, sentados nos sofás ou poltronas, alguns no chão e outros em cadeiras, sentados à mesa, simples, coberta por uma toalha surrupiada onde pousavam cestas de pães densos, queijos e carnes secas. Willian pousou os olhos em um sacerdote que girava a taça de vidro com vinho escuro e então bebericava. Ele se surpreendeu com a vida que habitava o templo, que até então parecia tão morto.
O som vinha de um canto onde tocava um pequeno grupo, dois homens nos tambores, uma mulher jovem, provavelmente uma noviça, tocava harpa enquanto outros dois jovens, talvez adolescentes, tocavam flautas de maneira alegre.
Willian permaneceu na sombra do corredor, observando de canto sem se anunciar. Não queria interromper o que quer que fosse aquilo. Ele não entendia muito sobre religião, logo, sabia apenas que o Kach’de era um período em que se comia, falava e comemorava durante as noites e de dia vivia de entrega a Kumaagala, sem comida, fala ou toques. Mas ele não imaginou que fosse tão quente, tão vívido, afinal, o templo era morto por dentro, silencioso.
Tudo aquilo era estranhamente belo, sacerdotes riam baixo entre si, brindavam em pequenos copos de barro, conversavam sobre coisas que Willian sabia não ser da sua conta. Seus olhos perpassaram todo o ambiente até recaíram em um ponto.
Ofélio.
Ele jazia sentado em uma poltrona e, embora durante as noites fosse o período de festejo, ele jazia na pose de sacerdote, pernas cruzadas e mãos sob os braços da poltrona com delicadeza e calma. Ele permanecia afastado da festa, mas seu capuz desta vez estava caído, revelando seus cabelos platinados, com algumas tranças repletas de miçangas e sua pele albina com algumas sardas espalhadas. Sua pele era tão clara que parecia refletir a luz da lareira à sua frente. Vez ou outra, sacerdotes se aproximavam dele, trocando palavras e Ofélio respondendo de forma comedida ou frases as quais Willian não ouvia, mas conseguia perceber o tom calmo e controlado.
Willian ficou ali, imóvel, sentia-se um intruso ao mesmo tempo que era como se a festa o chamasse. Ele ainda ouvia o som dos tambores, o ritmo ecoando e seus ossos e trazendo leves ardências em sua pele verminosa. Eles havia escolhido celebrar a Kumaagala durante quatro meses, decidido sacrificar suas vidas em prol do oculto e do divino. Willian não entendia aquele sentimento, mas podia notar a alegria nos olhos dos sacerdotes enquanto ele se sentia à margem do mundo.
Respirou fundo, afastando a inquietação que lhe acometia naquele momento. Deu um passo comedido para trás, preparando-se para fazer o caminho até seu quarto. Ele se virou de leve até que um som o fez parar: um tilintar de taça contra taça, seguido de um riso baixo que mais parecia uma risada, um sussurro contente.
Ele havia tirado conclusões erradas, acreditava que os templos eram espaço para a morte, mas ali, enquanto permanecia na penumbra do corredor, a vida pulsava em orgulho da causa que se sacrificaram a seguir.
Willian andava pelo penúltimo corredor até chegar ao seu quarto. Ele andava com as mãos enluvadas dentro dos bolsos da calça enquanto observava o piso irregular de paralelepipidos que até poderiam ter sido lixados mas ainda eram ásperos e tortos, esperavam alguém para enroscar o sapato e rir de sua queda.
Ele pensava na cena que acabara de contemplar. O calor da sala, os caibros ásperos de madeira e os braseiros, além das tapeçarias e das poltronas vermelhas, tudo aquilo continuava insistente na sua cabeça.
Percorria o corredor reflexivo. Então ele esbarrou em algo e ergueu o olhar de prontidão, num susto.
“Ah, Willian”, exclamou Sirien, botando a mão no peito com um ar dramático. Ele deu um passo para trás e examinou a situação. “O que faz perambulando a essas horas?”, perguntou ele, curiosidade expressa em seu timbre.
“Eu que te pergunto. Pensei que não participava do Kach'de”, respondeu Willian, piscando algumas vezes de cansaço. Talvez devesse dormir logo.
“Não participo”, ele disse, “mas a sujeira tem que ser limpa por alguém, não é?”, ele riu, mas riu sozinho e de forma constrangedora, ecoante no corredor quando Willian não correspondeu a risada. “Bem, vejo que você está insone. Diga-me, precisa de algo?”
Willian apertou os lábios, pensando. “Consegue uma caneta tinteiro?”, ele indagou, erguendo os olhos de leve, fixos no nariz reto do kalaschiano.
“Para quê?”, ele questionou, hesitante.
“Vim a Kalasch para me comunicar com a Universidade de Lexov.” Ele explicou, piscando algumas vezes, impassível, talvez devido ao sono, talvez devido ao mal humor de sempre. “Preciso fazer um requerimento para minha pesquisa.”, completou.
Sirien pareceu surpreso. “Ah, um cientista! Que informação boa”, sorriu. Tinha algo em Sirien que Willian desconfiava, até o formato de seu rosto quando sorria parecia ser calculado. “E no que consiste nossa pesquisa?”
“No momento, deve permanecer em sigilo.” Ele falava. Fez uma pausa, apertando os lábios mais uma vez ao sentir a ardência em sua pele piorar e fazer seu flanco direito latejar. “Não sei as diretrizes da Universidade quanto a expressão de dados prévios à publicação”, ele disse, tremendo ao final da frase quando sentiu o ímpeto de levar a mão até o flanco e apertá-lo em busca de algum alívio.
Willian respirou fundo. Já havia lidado com crises piores. Mas então a dor foi escalando os níveis, sentia a acidez corroer debaixo da sua pele, forçando-o a se curvar levemente, tentava amenizar a dor comprimindo os vermes.
Sirien olhou-o espantado, pousando a mão em seu ombro e tentando puxá-lo para ver seus olhos. Willian cedeu e endireitou a postura embora seu tronco queimasse como se fosse enterrado em brasas. O kalaschiano o observou com as sobrancelhas cerradas, aguardando uma explicação. Willian almejava a cama e talvez algo gélido com que pudesse cobrir os ferimentos, mas lutou contra a dor, engolindo a ânsia.
“Tenho crises de enxaqueca frequentes.”, ele grunhiu, a dor prostrada em sua voz cansada.
Sirien piscou algumas vezes, parecia desconexo, mesmo que suas sobrancelhas ainda estivessem cerradas expressando confusão. “Vá para seu quarto. Vou pedir algum remédio. Trarei a caneta.”, ele falou, colocou a mão às suas costas e o guiou até seu quarto.
“Obrigado.”, ele dissera, tossindo algumas vezes como se o verme se alojasse em sua garganta e o proibisse de respirar.
Willian abriu a porta e adentrou o quarto, assentindo para Sirien. O kalaschiano sorriu e ele forçou-se a sorrir como resposta. A porta fechou. Willian caiu de joelhos.
Seu braço ardia, assim como seu tronco e sua coxa. Sentia o ímpeto de esfaquear sua pele, arrancar seus membros e enfim se ver livre da praga. Doía, podia sentir os vermes se alastrando em sua caminhada ácida. Tirou as vestes pesadas pois sentia que elas pioraram seus sintomas. Olhou-se no espelho, via gotas de suor emergindo em sua testa e pescoço. Puxou de leve a gola da camisa, vendo o início da infecção em seu pescoço, adquiria um tom arroxeado e pungente, além de protuberante. Ele puxou a camisa de algodão e observou o flanco avermelhado e fervente. Willian deitou-se de lado no chão, respirando fundo.
Sua esperança estava nas mãos da universidade, uma chance de se ver sem dor.
Tinha que tomar uma atitude. Escreveria a carta o quanto antes.
O laboratório estava quente, até que reconfortante em seu abafamento mediante ao inverno barithaense. Os vidros ornamentados por arabescos negros tinham suas superfícies repletas de vapor embaçado e as cortinas eram antigas, mas ainda bem cuidadas. Havia uma longa e estreita mesa de metal de onde pendiam aparatos de cunho científico, fracos, chamas, amostras, bisturis e canetas tinteiro. Jazia Willian próximo a uma quina, sentado na cadeira com as mãos segurando a mandíbula e os cotovelos sobre os joelhos. Ele havia bebido na noite anterior junto a alguns colegas da universidade e agora sentia o porre, sua cabeça doía e os olhos não aguentavam muita luminosidade.
A porta do laboratório se abriu em um ranger agudo, típico de portas de metal com vidros entre os arabescos, que rangiam quando arrastavam arranhando o chão de pedra. Elias adentrou o lugar, vestia um sobretudo escuro listrado verticalmente e tinha seus cabelos ruivos e longos penteados, contrastantes com sua pele pálida e sardenta. Ele andou até Willian e pousou a mão em seu ombro direito, vendo o rapaz erguer os olhos para que encontrasse os dele.
Elias deu um sorriso conformado, meio triste, meio piedoso. “Sua publicação está sendo prestigiada em Barithael.”, ele falou, deslizando a mão pelo braço do homem. “Para quê acelerar sua morte assim?”, ele indagou, referia-se à comemoração da noite passada. Elias era mais sensato e prudente do que Willian, jamais se acabaria em bebidas de madrugada. Mas ele não repudiava o companheiro por ser assim.
Willian olhou-o de canto e sorriu mostrando os dentes. “Você sabe bem que meu sonho é morrer como todos aqueles cientistas. Jovem. Assim não terão relatos de meu envelhecimento.” Willian brincou, aceitando a mão de Elias e se erguendo da cadeira.
Elias, por sua vez, só o olhou com uma tristeza muda, aqueles comentários não arrancavam mais algum sermão tentando repreendê-lo, somente a pena e o cansaço de quem já havia insistido em aconselhar mas não recebera retorno. Ele ajeitou o colarinho de Willian em um movimento leve, hesitando quando notou que este ainda estava úmido do suor da ressaca. “Você age como se fosse mais válida uma conquista revolucionária do que um legado mais íntimo.”
“Como assim?” Willian questionou, dando um passo para trás brincalhão.
Elias espanou a poeira em seu sobretudo. “Ah! Sua lógica parte do princípio de que deixar um pequeno legado, entre os que você ama, é menos válido do que aquele legado deixado por um revolucionário.” Ele explicou. Observou Willian dar um sorriso preguiçoso. Willian olhava-o com carinho, um sorriso derretido. “O que foi?”, Elias indagou. Ele sabia o que Willian pensava, mas precisava ter certeza.
Willian mordeu o interior da boca de forma que continuasse sorrindo de maneira abobada. Seus olhos, ainda pesados da noite anterior, se encontraram com os de Elias e por um segundo, Willian sentiu uma epifania tomar seu ser.
Ele pousou as mãos sob a mesa de metal, apoiando o peso do corpo sob elas. Virou o rosto para Elias, ainda sorrindo, mesmo que de forma abobada. “É que você me traz de volta à racionalidade. Minha cabeça sempre está no céu.”, ele disse, fixava os olhos em Elias. “Ou no inferno. Eu não sei.” e desviou-os novamente.
Elias pousou a mão em seu pescoço, quente e macia, sem os calos de tanto escrever como as de Willian. O cheiro do óleo das lamparinas era amargo, mas era bom, além da luz que forneciam, deixavam o ambiente não mais quente, porém mais vivo. Quando seus olhos se encontraram, os olhos pretos de Willian, redondos, com os âmbar de Elias, o tempo pareceu não passar, aprisionava-os naquela fração de segundo.
Ele manteve a mão no pescoço de Willian por algum tempo, até criar coragem e se mover, deslizando-a até o ombro do rapaz. Seus olhos ainda estavam fixos um no outro, uma sensação melancólica pairava entre os pequeno espaço de um rosto ao outro. “Talvez você precise de um chá, algo quente.”, ele falou, se afastando de abrupto e andando pelo laboratório.
Nenhum cientista – Willian incluso – diria ser aceitável que se tivesse uma muda de erva-cidreira no peitoril da janela de um laboratório. E, decerto, cientista nenhum jamais aprovaria que se colhesse algumas folhas da planta e bebessem o chá em um laboratório. Mas Elias era diferente, ele não era um cientista. Willian até poderia ter uma síncope ao ver aquilo, mas não duvidava que o companheiro fosse capaz de ferver a água dos fracos mesmo – e ele sabia que, caso tivesse uma síncope, o ruivo iria tomar providências e possivelmente nunca mais encostaria em um frasco. A sorte era que Willian sabia que ele não teria uma síncope. Quer dizer, não por esse motivo.
Willian preferiu não prestar atenção em como o rapaz faria o chá, somente dizendo “Preciso mesmo é de um milagre”, e dando uma risada seca. Ele viu que Elias pegava água do jarro de vidro e rezou internamente, agradecendo a deuses os quais ele não contava até três para refutar a existência. Ele deixou a água e os pedaços da folha da erva cidreira picados em pequenos fragmentos flutuantes em um copo de barro – Willian rezou pela segunda vez – o qual ele apoiou sobre um suporte metálico, rente à chama amarelada de um dos frascos aquecidos a óleo que usavam para os experimentos – Willian aceitou a derrota.
Elias sorriu ao ver Willian rindo com o dorso da mão sob os lábios escondidos, porém quando ria, o formato de seus olhos se alterava, fechavam-se quase que por inteiro. Ele andou até o cientista com um copo de barro de onde emergia vapor espiral. “Beba. Talvez se sinta melhor com isso.”
“Você sabe que não há nada que comprove isso, não é?” Willian provocou, pegando o copo de barro e bebendo seu conteúdo em goladas grotescas, almejado por algo quente em seus lábios secos. O aroma do chá alcançou suas narinas, preenchendo-o.
“Ah, poupe-me disso, Willian.”, Elias resmungou. “Duvido que não esteja melhor.”
Willian riu.
Mas aquilo seria interrompido, poderia ser interrompido. A qualquer momento. Ele cerrou o punho quando sentiu a ardência dos vermes emergir em sua pele, aquela dor da praga debaixo da sua pele. Ele sabia que a infecção tinha substâncias corrosivas e que eram expelidas em ciclos de reprodução, dando-lhe crises, por vezes, esperadas em momentos específicos ao contar as horas, devido à própria ciclicidade. Willian trancou a mandíbula, parando de rir ao sentir o início da crise, seu corpo começando a suar, trêmulo.
Elias viu a expressão do companheiro, andando até ele novamente e se agachando ao seu lado, buscando por seus olhos fixos no chão. Willian lacrimejava, mas escondia a dor com afinco. Seu flanco ardia, parecia ser queimado por brasas acesas.
De repente, ele estava em Vulcânia novamente. Os desertos secos e quentes, a solidão. A pesquisa havia sido barrada. Ele então fora sem recursos elaborados. Sem preparo. Aquela crise era sua culpa.
O peso do arrependimento caiu em seus ombros como uma bigorna. Fazia-o esquecer da dor física, embora ela ainda existisse. Mas, afinal, aquela dor era acostumável, ela acontecia periodicamente e ele então ingeria algo para dormir ou se esbaldava em álcool até vomitar. Mas agora não almejava apagar. Almejava sentir. Almejava uma solução.
Elias pegou sua mão não infectada, acariciando-a com o dedão. “Crise?”
O cientista cerrou a sobrancelha e assentiu, trancando ainda mais a mandíbula. Ele apertou o joelho com a mão livre – mas, infelizmente, não livre de vermes. Ele afundava, imerso no arrependimento. Se não não tivesse ido até o deserto, se tivesse me preparado.
A dor latejava em sua pele, que suava como resposta, ardente. Willian queria se levantar da cadeira, talvez até se aventurar na neve pois ela costumava fornecer algum alívio da dor, mas a dor o paralisava, fazia-no perder os sentidos, ouvia em um eco surdo Elias repetir “Vai passar, vai passar. Sempre passa”, mas ele não se importava com isso, ele não queria que passasse e sempre passasse, pois o sempre implicava que continuaria até sua morte. Ele queria um fim.
Willian abriu os olhos depois de um cochilo mal dormido. Sentiu as cobertas aprisionando-o no suor e calor, o que piorava a dor, mas que agora doía menos que antes. Ele se ergueu, gemendo ao sentir o flanco agulhar e seus músculos retesados arderem. Willian sonhara com Elias e isso não era raro, a imagem do homem ruivo e sardento sempre estava em sua mente e até no seu sono. Ele sentia sua falta.
Perdera Elias para a própria arrogância e seu instinto ególatra. Agora lidava com a dor sozinho em um quarto escuro em Kalasch.
Estava insone novamente e odiava o ócio. Decidira escrever a maldita carta.
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